CRYPTOPSY libera o caos com "An Insatiable Violence" e redefine brutalidade técnica em seu nono álbum de estúdio

Poucas bandas no metal extremo conseguem manter a relevância e intensidade por mais de três décadas. O CRYPTOPSY, monstro canadense do death metal técnico, não apenas sobreviveu à passagem do tempo — eles evoluíram. Com o lançamento do novo álbum An Insatiable Violence, marcado para o dia 20 de junho de 2025 pela gravadora Season of Mist, o grupo retorna afiando suas armas sonoras como nunca antes.

A banda, reverenciada por clássicos como Blasphemy Made Flesh (1994) e o seminal None So Vile (1996), encontra uma nova marcha em An Insatiable Violence. A proposta é clara: empurrar os limites da agressão sem perder o refinamento técnico. E a jornada começou logo após a pandemia, com a decisão de lançar álbuns com mais frequência. Assim como As Gomorrah Burns (2023), esse novo trabalho surge com apenas 21 meses de diferença, mantendo acesa a chama criativa do grupo.

"Tivemos que escrever a maior parte de An Insatiable Violence enquanto estávamos na turnê DEATH TO ALL, algo que nunca fizemos antes", revela o vocalista Matt McGachy. "Flo [Mounier, bateria] e Chris [Donaldson, guitarra] realmente colocaram o cérebro pra funcionar. Foi um feito e tanto."

Segundo Mounier, desde a pandemia, o foco da banda se tornou mais apurado: "Muita coisa passou a ser resolvida mais rápido. A gente se cobra e se impulsiona mutuamente a concluir o que começamos."

E o resultado é um álbum que mescla o caos controlado característico do CRYPTOPSY com passagens dinâmicas que dão fôlego ao ouvinte — apenas para golpeá-lo novamente com ainda mais força. Essa dinâmica fica evidente em faixas como "Until There's Nothing Left", já lançada como single, e no encerramento "Malicious Needs", que mistura peso arrastado e brutalidade pura.

Olivier Pinard (baixo) mostra sua força em "Fools Last Acclaim", mantendo o ritmo acelerado de Mounier com autoridade absurda. Donaldson, por sua vez, intercala riffs dissonantes com melodias cortantes ao longo do disco. É, segundo McGachy, uma extensão natural do álbum anterior: "Queríamos fazer um disco mais groovado, e sentimos que conseguimos."

O conceito do álbum também tem uma pegada distópica e simbólica, beirando a ficção científica existencial. "O título veio pra mim em um sonho, em agosto de 2023", conta McGachy. "Sonhei com uma pessoa que acorda todo dia para consertar uma máquina. Passa o dia tentando melhorá-la, suando ao sol, e à noite, se amarra nela e a máquina a tortura. E ela ama isso. E repete o ciclo, todos os dias."

Embora pareça um conto sombrio, o vocalista vê nisso uma metáfora direta para o uso abusivo das redes sociais. "Estamos constantemente alimentando esse algoritmo, essa máquina que nos destroça social e psicologicamente. A música 'The Nimis Adoration' fala sobre mukbang, essa febre coreana onde pessoas comem quantidades absurdas de comida online. Uma garota chegou a morrer ao vivo numa câmera."

No centro de toda essa violência musical está a bateria de Flo Mounier. Apontado por muitos como o baterista mais impressionante do Canadá desde Neil Peart, Flo entrega performances surreais em faixas como "Dead Eyes Replete", "Fools Last Acclaim" e "Embrace The Nihility". McGachy não esconde sua admiração: "Vejo o Flo como um atleta olímpico. Quero puxar tudo dele enquanto ele ainda está no auge."

Flo mistura treinamento físico com prática musical para manter o desempenho absurdo. "Recentemente desenvolvi técnicas novas para tocar mais rápido. No estúdio, busquei trabalhar mais a dinâmica: a forma como bato na caixa, os toques mais leves nos tons, tudo isso influencia. Ao vivo, eu realmente deixo tudo explodir."

McGachy, por sua vez, também se reinventou como vocalista. A turnê intensa de As Gomorrah Burns foi um campo de treinamento, permitindo que ele evoluísse no uso de "false chords" — uma técnica gutural extrema. "Gravei An Insatiable Violence com o vocal mais profundo da minha carreira. Chris ficava me dizendo: 'Mais fundo, vai mais fundo!'"

Como uma surpresinha para os fãs, o álbum traz ainda uma participação especial: Mike DiSalvo, vocalista da era clássica do CRYPTOPSY, aparece nos momentos finais de "Embrace The Nihility". "Se íamos nos auto-homenagear, por que não trazer o verdadeiro cara?", brinca McGachy. "Foi uma honra. Todos aqui amam a fase DiSalvo."

Vale lembrar que As Gomorrah Burns rendeu ao grupo seu primeiro Juno Award em 2024, como álbum do ano na categoria Metal/Hard Music. A vitória veio como uma surpresa: "Nem fomos à cerimônia. Estávamos em turnê com o ATHEIST na Europa. Quando soubemos que vencemos, fizemos uma viagem maluca de 18 horas de Derby à Alemanha, mas ainda assim comemoramos por dois dias. Flo comprou um champanhe caríssimo."

Com An Insatiable Violence, o CRYPTOPSY não apenas reafirma sua força, mas redefine os padrões do death metal moderno. É um manifesto sonoro de uma banda que, trinta anos depois, continua faminta por evolução e brutalidade.

Prepare-se para a violência.